segunda-feira, 28 de novembro de 2011

EPÓCA DE CAMPANHAS POLITICAS É A SAFRA DA MAIORIA DOS ELEITORES DE PEDRO AVELINO, CANDIDATO A VEREADOR SOFRE.

Na minha vida eu nunca pensei de ser candidato a nada, nem eu nem minha mulher. Corria o ano de 1996, quando chegou à minha casa uma proposta do Deputado José Adécio, para minha esposa Auxiliadora ser candidata a vereadora, relutamos muito a proposta, mais logo fomos convencidos. Estávamos passando uma fase financeira muito ruim, eu estava desempregado com dois filhos estudando em Natal, só trabalhava minha esposa e eu tinha uma grande ajuda do meu pai para o sustento da minha família. Mesmo assim fomos a luta com uma mão na frente e outra, estávamos mais apertado do que caçote em boca de traira. Mesmo com todas as dificuldades fomos á luta. Quando a notícia que Auxiliadora era candidata a vereadora se espalhou, minha casa começou a se encher de pessoas para pedir, eram os pedidos mais esdrúxulos que eu já vi na minha vida. De bujão de gás, chuteiras, roupas, peças de bicicletas, lençol, litro de cachaça, telefonemas para bater papo, carne, colchão, passagem para Natal, um cavaquinho, almoço para varias pessoas, papel de luz e água, era um terror, ninguém dormia direito, tinha gente que tomava café pela manhã, almoçava e jantava, colocava o perfume de Auxiliadora, pedia o dinheiro para comprar uma meiota e uma carteira de cigarros, virou um inferno a nossas vidas, sossego já era, estava tudo tumultuado. Um belo dia chegou um recado na minha casa, uma pessoa que vou omitir o nome, mandou nos chamar, pois tinha uma proposta para votar em Auxiliadora. Fomos a casa de Catinha nome fictício.

--- Diga Catinha qual é sua proposta?

--- Bem Ciliadora, aqui em casa tem oito votos, só leva esses votos quem aposentar o meu marido, a todos os candidatos que procuro, dizem que não podem, essa é última tentativa que eu faço, se não aposentarem meu marido ninguém vai ter voto aqui em casa.

--- O que precisa para aposentar o seu marido? Perguntou Auxiliadora.

--- Tem que tirar o batistério, o registro civil, e isso tudo isso é na cidade de Angicos.

Comprometemos-nos com a investida da eleitora, pedimos a data de nascimento e nome completo do individuo, e caímos em campo para aposentar o safado que sentado numa cadeira, não dava uma palavra. Pegamos tudo certinho, e no outro dia partimos para a cidade Angicos com o carro emprestado de Laécio Teodoro. Auxiliadora procurou o Padre Pinto que nos conhecia e mandou imediatamente fazer o batistério do safado, pagamos o batistério, e partimos para o cartório para tirar a segunda via do registro civil. No cartório, o funcionário foi logo dizendo:

--- Eu mesmo não vou procurar naqueles livros velhos, já peguei uma gripe da poeira que quase morro.

Pedi licença para procurar, e o funcionário aquecedeu. Quando entrei no depósito de papel velho me arrependi, aquilo era mesmo que procurar uma agulha num palheiro, a bagunça era terrível, mesmo assim enfrentei a barra pesada de poeira e papel mofados traça e cupins. Achei o livro que procurava, entreguei ao funcionário que prontamente fez a segunda via do registro civil. Voltando para Pedro Avelino, no caminho já senti a garganta arranhando, peguei uma gripe que quase me lasco. Peguei o safado e fui até o INSS de Angicos e dei entrada nos papeis trinta dias depois o cara recebeu o primeiro pagamento. Voltamos á casa de Catinha para firmar o compromisso. Quando chegamos a casa de Catinha a sala da casa estava repleta de fotos de vereadores, e de Auxiliadora nenhuma. Perguntei:

--- Como é Catinha está de pé o nosso compromisso? O seu marido já está aposentado, já recebeu até o primeiro pagamento, os votos daqui são de Auxiliadora?

--- Vamos vê!

--- Vamos vê como Catinha? Você se comprometeu com oito votos, e agora vai dar para trás.

--- Sabe o que acontece os três meninos cada um recebeu um par de chuteiras de Bôca, as meninas receberam cada uma um par de sandálias de Cavalcanti, Zé militão me deu uma feira, bidoca me deu uma caixa de remédio, aqui você só tem o voto do meu marido.

Lá da cozinha o safado do marido gritou:

--- O meu mesmo não, o meu voto é de Zé de Henrique, eu não fiz compromisso com ninguém, quem fez foi você.

--- Mas fulano eu lhe aposentei, e aposentadoria é para o resto da vida. Disse Auxiliadora.

--- Eu não lhe pedi nada, quem pediu foi Catinha, ela que se ate com você.

Catinha ainda disse:

--- Não se preocupem, nem que seja um voto você tem aqui em casa.

--- E o seu Catinha?

--- O meu é de Zé Militão.

--- E Bidoca que lhe deu os comprimidos?

--- Bidoca eu deixo pra lá. Ciliadora é seguinte: se você quiser eu arranjo um voto para você, se não quiser eu não posso fazer nada.

Teve varias histórias, breve contarei mais. Auxiliadora ficou na terceira suplência.

Manoel Julião Neto

quinta-feira, 14 de julho de 2011

N A R I Z T U P I D O ...

No interior de Minas, um casal de amigos caminhava
pelo pasto de uma fazenda, até que viram um cavalo transando com uma égua e a amiga logo perguntou:
- Carzarbertoo, o que é aquilo?
- Elis tão casalano, sô! A égua tá no cio, o cavalo percebeu isso é tá mandano brasa!!!
- Mais cumé co cavalo sabe que ela tá no cio, Carzarberto?
Aaara!! O cavalo sente o cheiro da égua no cio, sô!
Passaram mais adiante. Tinha um bode transando com uma cabra e a amiga
perguntou de novo e o amigo deu a mesma resposta.
Mais na frente, lá estava um boi pegando uma vaca.
Ela tornou a perguntar e ele deu a mesma resposta: que o boi também sentia
o cheiro da vaca no cio.

Foi aí que a amiga perguntou:
- Ô Carzarberto, se eu perguntá uma coisa pr'ocê, ocê jura que num vai ficá chatiado?
- Craro que não, miga! Ocê pode perguntá!
- OCÊ TÁ COM O NARIZ TUPIDO?

SEXO COM EMOÇÃO...

O brasileiro chega ao trabalho todo sorridente, feliz com a vida, e
seu colega português lhe pergunta:
- Por que estás a rir à toa?
Ele responde:

- Tive uma noite maravilhosa..., estava fazendo sexo com minha
mulher...
- E quando estava quase gozando, peguei a minha arma e dei um tiro para
cima. Ela levou um puta susto, contraiu sua vagina e gozei muito gostoso! Por que você não faz a mesma coisa?
E assim o português se propôs a fazer... No outro dia o português chega ao trabalho com uma cara de merda... E seu amigo pergunta:
- E aí não deu certo
Ele respondeu:
- Claro que não!!! ... Estava eu a fazer um 69 com minha mulher quando ia estar a chegar lá,
dei o tiro sugerido. me sai um filho da puta do armário gritando:

- NÃO ME MATE POR FAVOR!!!.

Manoel - os patricios sempre nos fazem rir....

Manoel chega em casa com uma caixa de Mate Leão debaixo do braço e
entrega pra Maria:
-Manoel, eu mandei você trazer veneno pra rato e você me traz uma caixa
de Mate Leão?!
-Mas se mata um leão, você acha que não vai matar um ratinho de merda?!!!


Na pastelaria, Manoel entra e pede:
-Tem pastel quentinho?

-Acabou de sair!
-Raios! A que horas ele volta??


-Manoel, vamos numa festa de aniversário de 15 anos?
-Vamos sim. Mas eu só posso ficar uma semana!


Um temporal, enxurrada descendo e o amigo fala pro Manoel:
-Manoel, a enxurrada levou teu carro!!
-Ah...levou nada!! A chave está aqui comigo!


Notícia de primeira página:
'Português vai pagar IR na fonte e morre afogado!!'


Manoel chega na alfândega, a mala magrinha, magrinha, o fiscal ainda
> não tinha revistado e pergunta:
-Tudo jóia aí português?!
-Não, só a metade. O resto é coca!!


Manoel vai acampar com os amigos.
À noite, sai da barraca pra urinar e vê um bando de índios se aproximando.
Volta correndo e diz pros amigos:
-Tem um monte de índios vindo pra cá!! Eles vão nos atacar!!
E o outro:
-Calma Manoel. Precisa ver se eles são amigos.
-Claro que são, porra!! Eles estão todos juntos!!!


Manoel pescando na maior folga, com os pés fora do barco, dentro d'água..-Nisso, ele começa a gritar:
- Aí Jesus um jacaré comeu o meu pé!!!
O amigo pergunta:
-Qual deles?
- Eu lá vou saber, porra!! Eles são todos iguais!!!


Manoel foi servir o exército. Chegando lá, o sargento manda o português pro fim da fila. Ele vai e volta rapidinho. O sargento berra:

-Eu não mandei ir pro final da fila?!!!
-Sim, eu fui!! Mas eu cheguei lá e já tinha outro no meu lugar...então voltei!


Manoel pega um balão que caiu e lê o que estava escrito: 'Quem pegar esse balão é um veado' Ele fica muito puto e pra se vingar, faz outro balão e solta escrevendo:
'Veado é quem soltou!!'

segunda-feira, 18 de abril de 2011

BIG BROTHER

Curtir o Pedro Bial
E sentir tanta alegria
É sinal de que você
O mau-gosto aprecia
Dá valor ao que é banal
É preguiçoso mental
E adora baixaria.

Há muito tempo não vejo
Um programa tão ‘fuleiro’
Produzido pela Globo
Visando Ibope e dinheiro
Que além de alienar
Vai por certo atrofiar
A mente do brasileiro.

Me refiro ao brasileiro
Que está em formação
E
precisa evoluir
Através da Educação
Mas se torna um refém
Iletrado, ‘zé-ninguém’
Um escravo da ilusão.

Em frente à televisão
Lá está toda a família
Longe da realidade
Onde a bobagem fervilha
Não sabendo essa gente
Desprovida e inocente
Desta enorme ‘armadilha’.
Cuidado, Pedro Bial
Chega de esculhambação
Respeite o trabalhador
Dessa sofrida Nação
Deixe de chamar de heróis
Essas girls e esses boys
Que têm cara de bundão.

O seu pai e a sua mãe,
Querido Pedro Bial,
São verdadeiros heróis
E merecem nosso aval
Pois tiveram que lutar
Pra manter e te educar
Com esforço especial.

Muitos já se sentem mal
Com seu discurso vazio.
Pessoas inteligentes
Se enchem de calafrio
Porque quando você fala
A sua palavra é bala
A ferir o nosso brio.

Um país como Brasil
Carente de educação
Precisa de gente grande
Para dar boa lição
Mas você na rede Globo
Faz esse papel de bobo
Enganando a Nação.

Respeite, Pedro Bienal
Nosso povo brasileiro
Que acorda de madrugada
E trabalha o dia inteiro
Dar muito duro, anda rouco
Paga impostos, ganha pouco:
Povo HERÓI, povo guerreiro.

Enquanto a sociedade
Neste momento atual
Se preocupa com a crise
Econômica e social
Você precisa entender
Que queremos aprender
Algo sério – não banal.

Esse programa da Globo
Vem nos mostrar sem engano
Que tudo que ali ocorre
Parece um zoológico humano
Onde impera a esperteza
A malandragem, a baixeza:
Um cenário subumano.

A moral e a inteligência
Não são mais valorizadas.
Os “heróis” protagonizam
Um mundo de palhaçadas
Sem critério e sem ética
Em que vaidade e estética
São muito mais que louvadas.

Não se vê força poética
Nem projeto educativo.
Um mar de vulgaridade
Já se tornou imperativo.
O que se vê realmente
É um programa deprimente
Sem nenhum objetivo.

Talvez haja objetivo
“Professor”, Pedro Bial
O que vocês tão querendo
É injetar o banal
Deseducando o Brasil
Nesse Big Brother vil
De lavagem cerebral.

Isso é um desserviço
Mau exemplo à juventude
Que precisa de esperança
Educação e atitude
Porém a mediocridade
Unida à banalidade
Faz com que ninguém estude.
É grande o constrangimento
De pessoas confinadas
Num espaço luxuoso
Curtindo todas baladas:
Corpos “belos” na piscina
A gastar adrenalina:
Nesse mar de palhaçadas.

Se a intenção da Globo
É de nos “emburrecer”
Deixando o povo demente
Refém do seu poder:
Pois saiba que a exceção
(Amantes da educação)
Vai contestar a valer.

A você, Pedro Bial
Um mercador da ilusão
Junto à poderosa Globo
Que conduz nossa Nação
Eu lhe peço esse favor:
Reflita no seu labor
E escute seu coração.

E vocês caros irmãos
Que estão nessa cegueira
Não façam mais ligações
Apoiando essa besteira.
Não deem sua grana à Globo
Isso é papel de bobo:
Fujam dessa baboseira.
E quando chegar ao fim
Desse Big Brother vil
Que em nada contribui
Para o povo varonil
Ninguém vai sentir saudade:
Quem lucra é a sociedade
Do nosso querido Brasil.

E saiba caro leitor
Que nós somos os culpados
Porque sai do nosso bolso
Esses milhões desejados
Que são ligações diárias
Bastante desnecessárias
Pra esses desocupados.

A loja do BBB
Vendendo só porcaria
Enganando muita gente
Que logo se contagia
Com tanta futilidade
Um mar de vulgaridade
Que nunca terá valia.

Chega de vulgaridade
E apelo sexual.
Não somos só futebol,
Baixaria e carnaval.
Queremos Educação
E também evolução
No mundo espiritual.

Cadê a cidadania
Dos nossos educadores
Dos alunos, dos políticos
Poetas, trabalhadores?
Seremos sempre enganados
E vamos ficar calados
Diante de enganadores?

Barreto termina assim
Alertando ao Bial:
Reveja logo esse equívoco
Reaja à força do mal…
Eleve o seu coração
Tomando uma decisão
Ou então: siga, animal…

FIM
"O tamanho da

JOÃOZINHO

Quando uma professora dava aula a seus alunos sobre as diferenças

entre os ricos e os pobres, Júlia levanta o dedo:

- Senhora, meu pai tem tudo: TV, telescópio, DVD, Mercedes...

- Tudo bem, diz a professora, mas será que tem uma lancha?

Júlia reflete e diz:

- Bem, não...

A professora disse:

- Viu, não podemos ter tudo.

- Professora, disse Artur, e seu pai o que é que tem?

- meu pai tem tudo: TV, telescópio, DVD,
Mercedes, Lancha,...

- Sim, responde a professora, mas será que tem um avião particular?

Depois de refletir, Artur responde:

- Bem, não...

- Está vendo que não se pode ter tudo na vida? disse a professora.

Joãozinho levanta o dedo e diz:

-Professora, meu pai, agora, tem tudo.

- Será? disse a professora.

-Certeza, pois sábado passado, quando minha irmã apresentou seu novo
namorado, negão, de cabelo loiro (denominado crilouro ), FLAMENGUISTA ,
PETISTA e ELEITOR DA DILMA, tatuado, de bonezinho virado, cueca
aparecendo, camisa de hip hop... o papai disse:

- PUTA QUE PARIU !!!!... ERA SÓ O QUE ME FALTAVA!

A DIFERENÇA ENTRE SER SOGRA DO GENRO E SER SOGRA DA NORA


Duas distintas senhoras encontram-se após um bom tempo sem se verem.
Uma pergunta à outra:
- Como vão seus dois filhos... á Rosa e o Francisco?
- Ah! Querida... á Rosa casou-se muito bem. Tem um marido maravilhoso.
É ele que levanta de madrugada para trocar as fraldas do meu netinho, faz o
café da manhã, arruma a casa, lava as louças, recolhe o lixo e ajuda na faxina.
Só depois é que sai para trabalhar, em silêncio, para não acordar a minha
filha. Um amor de genro! Benza-o, ó Deus!
- Que bom, em amiga! E o seu filho, o Francisco? Casou também?
- Casou sim, querida. Mas tadinho dele deu azar demais. Casou-se muito
mal... Imagina que ele tem que levantar de madrugada para trocar as fraldas
do meu netinho, fazer o café da manhã, arrumar a casa, lavar a louça,
recolher o lixo e ainda tem que ajudar na faxina! E depois de tudo isso ainda sai para
trabalhar, em silêncio, para sustentar a preguiçosa, vagabunda,
encostada da minha nora - aquela porca nojenta e mal agradecida!

*"Mãe é mãe ! Sogra é Sogra" ! *.

NO SERIDÓ É ASSIM ...



O "Cumunista"

Caso verídico ocorrido nos Cariris Velhos da PB, repassado pelo
historiador Hermano Nepomuceno.

Assim que o golpe militar de 1964 tomou o poder, chegou à pacata cidade
de Junco do Seridó o seguinte telegrama, enviado por um golpista-general
ao Cabo Muriçoca, delegado do lugar: "Prenda todos os comunistas em
nome do Exército Nacional".
Orgulhoso por tamanha distinção,o cabo reuniu a tropa, exibiu o
telegrama como um troféu, leu os seus dizeres e indagou:

- Alguém aí sabe o que é "cumunista"? Silêncio da soldadela. Até que
apareceu um soldado sarará, do beiço rachado, um olho aberto e o outro
fechado, para sugerir:

- Seu cabo, na minha opinião, "cumunista" é cabra que come cu.
Aí, o delegado, com jeito de quem descobriu o Brasil, ordenou:
- Se é assim, vamos invadir o cabaré de Maria Priquitim e prender todo
individuo que estiver comendo cu.
Dito e feito. Chegaram logo quebrando as portas, invadindo os quartos,
pegando os casais no bem bom. Já tinham invadindo cinco quartos, quando
no sexto encontraram um sujeito enrabando a quenga "Joinha". O delegado
não pestanejou:
-Teje preso seu "cumunista" safado, em nome do Exército Nacioná.
O pobre homem ficou logo de pimba mole, suando por todos os buracos,
enquanto balbuciava:
- Mas, seu delegado, eu não fiz nada...
- Fez, seu subversivo! Você tava cumendo um cu e quem come cu é
"cumunista", esbravejou Muriçoca.
Ao pobre "cumunista" só restou uma explicação derradeira:
-Seu delegado, juro por minha mãe que está no céu: esta é a primeira vez
que eu como um cuzinho. O que eu sou mesmo, o senhor pode acreditar, é
bucetista.

LAMPIÃO MODERNO

Alguém ai tem resposta

Pra pergunta que eu faço?
Lampião, rei do cangaço
Foi bandido ou foi herói?
Nem sei se esta é a questão,
Pois hoje a corrupção
Tem um punhal cangaceiro
Sem dó e sem piedade,
Segurança e dignidade
De quem é bom brasileiro.

O Virgulino moderno
É bandido refinado
Exibe carro importado,
Tem jatinho e muito mais.
A caneta é seu fuzil,
Com ela assalta o Brasil
Do jeito que sempre quis:
Feito cupim na madeira,
Fazendo uma barulheira
Nas finanças do País.

Esse novo Virgulino
Não tem chapéu estrelado,
Não sabe dançar xaxado,
Não canta Mulher Rendeira,
Ele não dorme no mato,
Ama o conforto e o bom trato.
E não agüenta repuxo:
Com seu dinheiro e malícia,
Quando foge da polícia,
Se esconde no hotel de luxo.

Não anda pelas caatingas,
Nem cruza moita de espinho,
Mas constrói o seu caminho
Com muito nome esquisito:
É fraude, é clientelismo,
É pilhagem, é nepotismo,
É propina, é malandragem.
Mas ele não se contenta:
A tudo isso acrescenta
A mentira e a rapinagem.

Quando chega a eleição,
Sendo ele candidato,
Promete roupa, sapato,
Dentadura, leite e lote.
Se tem amigo disposto
A sonegar o imposto,
Ele segura a peteca
Com uma frase canalha:
- se eu vencer essa batalha
Eu seguro essa merreca!

No palanque faz de Deus
O seu cabo eleitoral,
Criando o clima ideal
À exploração da fé
Seu discurso é de devoto,
Mas sua fé é o voto
Da humilde multidão
Que, inocente, se dobra:
Vira massa de manobra
Nas garras de Lampião.

O seu instinto perverso
É muito sofisticado:
Ele mata no atacado,
Quando desvia milhões
Em cada cheque que assina.
O bandoleiro assassina
Gente em escala brutal
De onde vem a matança?
Da falta de segurança,
De médico no hospital...

É direito da criança
Ensino de qualidade,
Mas dessa realidade
Pouca criança desfruta.
E quanto ao saneamento,
Não existe investimento
Neste importante setor,
Porque o nosso dinheiro
Vai parar no estrangeiro,
Na conta do malfeitor.

O cangaceiro de hoje
Tem site na Internet
E grava até em disquete
Os
seus planos de ação.
Certo da impunidade,
Ele se sente à vontade
Pra dizer sem embaraço,
Justificando a orgia:
- Lampião nada fazia
Já eu roubo, mas eu faço!

Penso até ser injustiça
Comparar o Virgulino
Lá do sertão nordestino
Com esses cabras de hoje.
Pois de uma coisa eu estou certo:
Lampião nem chega perto
Desse que, de forma vil
E com bastante requinte,
Saqueiam o contribuinte
Que ainda crê no Brasil.

Ah, Capitão Virgulino,
Que andas fazendo agora?
Chega de tanta demora.
Sai desta cova ligeiro,
Vem retomar teu reinado!
Anda logo, desgraçado.
Chama teus cabras de fama,
Traz Corisco e Ventania,
Quinta Feira e Pontaria.
Tira o país dessa lama!

Chama Dadá, traz Maria,
Pra ti dar inspiração.
Traz Canário e Azulão,
Onde anda Moita Brava,
Jararaca e Zé Sereno,
Que provaram do veneno
Da refrega sertaneja?
E Bem-Te-Vi, bom de briga,
Cantando a mesma cantiga,
Não vai fugir da peleja.

Não esquece Volta Seca,
Sabonete e Jitirana
Que viraram caninana,
Nos instantes de combate.
Chama também Zé Baiano,
Pois entra ano e sai ano
E a coisa fica mais feia.
Já são muitos os excluídos
E a culpa é de bandidos
Que precisam levar peia!

Anda logo, que o Brasil
Já se cansou do teu mito,
Ouve o apelo e o grito
Do povo deste país.
Mas cuidado, capitão,
Cuidado com a mangação
Que pode ser um horror,
Já tem corrupto espalhando,
Que, em formação de bando

Lampião era ”amador”.

domingo, 20 de fevereiro de 2011

COMPROMISSO É COMPROMISSO

Pau darco distrito de uma pequena cidade do Nordeste, pobreza inclemente, casebres de taipa caindo paredes, varas e estacas aparecendo, portas e janelas velhas feitas de lascas de imburana e cobertas de palhas de carnaúbas. Não existe mais do que quinze. Á distância do distrito para a cidade mais próxima dista de cinco léguas. Os moradores nos finais de semana em lombo de animais vara as veredas esburacadas para fazerem suas moquecas de feira. É um sofrimento sem tamanho para um povo que sofre tanto nos recantos dos distritos e vilas do Nordeste. A comunidade na maioria é de adultos, meninos são criados nus entre os animais como carneiros, porcos e cachorros, as barrigas são estufadas, sempre trazem uma chupeta pendurada no pescoço por um cordão sujo. Não existem escolas, nunca aparece médicos, as doenças são tratadas por curandeiras, ou então remédios de meisinha feitos de folhas e cascas de árvores da região.
Foi nesse ambiente hostil que nasceram Damião e Amélia, na mesma década, cresceram juntos, os seus pais sempre dizendo, que quando ficassem adultos casariam, os dois colocaram isso na cabeça, não se afastavam um do outro, eram um visgo os dois, nas brincadeiras, nas quadrilhas do mês de São João, e nas poucas festas que acontecia no distrito onde residiam.
Ficaram adultos Damião com 20 anos e Amélia com 19 anos, continuavam se amando com a mesma intensidade desde quando eram crianças. Damião tornou-se um jovem trabalhador e responsável, sua vida era trabalhar e amar Amélia.
Mas a vida tem seus percalços, Damião perdeu os pais, o jovem rapaz ficou só no mundo, para seu consolo tinha o amor de Amélia, que também o amava muito. Damião mudou-se para casa da amada que fazia tudo para ele, os pais da moça aceitaram tudo aquilo, não importava que os vizinhos falassem, confiavam nos dois, sabiam que eram ajuizados e não fariam besteira antes do casamento.
Em 1958 a seca tomava conta de toda região do Nordestino. Damião e o pai de Amélia se matavam nas frentes de trabalho ministrado pelo Exército Brasileiro. Eram oito horas de trabalho, carregando barro na padiola para consertarem estradas e paredes de pequenos açudes. No final do mês recebiam farinha, feijão carne de jabá, bulgol e rapadura. Damião não estava satisfeito com aquela situação, não era escravo para trabalhar só pela comida, precisava de dinheiro, para comprar outras coisas necessária dentro de uma casa. Tomou uma decisão para sua vida, possuía uma vaca e um garrote, vendeu os dois, resolveu ganhar a vida em São Paulo, era analfabeto, mas tinha disposição para o trabalho, e no sul precisavam quem tivesse disposição para o pesado, assim diziam os que foram para lá, e voltaram para passear anos depois. Antes de partir, comprou um par de alianças e ficou noivo de Amélia, falou para ela e seus pais, que iria viajar para Sul, mas estava firmando um compromisso com todos: - Que quando arranjasse um emprego no sul, voltaria para casar com Amélia, que ela fosse se arrumando, que logo, logo, levaria todos com ele para residir em São Paulo. Todos aceitaram a proposta. Houve muito choro por parte de Damião e Amélia, não sabiam viver um longe do outro, seria duro para os dois se acostumarem com a distância que os separavam.
Damião partiu para sua viagem solitária, muito triste, sempre chorando na carroceria do pau de arara que o levaria a São Paulo. Era uma viagem cansativa, viagem para mais de dezoito dias, um sofrimento que só quem estava precisando se arriscava. Dentro de um saco levava duas calças velhas e duas camisas esgarçadas.
Damião foi solto no largo de Santo Amaro em São Paulo, ficou assombrado com o tamanho da cidade, aquilo era um mundo diferente, nunca tinha visto aquelas casas em cima umas das outras, que as pessoas chamavam de apartamento, pessoas bem vestidas, mulheres bonitas andando nas ruas, ele com aquela calça de manipulam e camisa de algodãozinho ralo no meio de uma praça, não sabia o que fazer e nem para onde ir. Ficou sentado no banco da praça, estava com fome, tinha dinheiro, mas nem comida sabia comprar. Quando apareceu um negrão em sua frente que perguntou:
--- Chegando agora Baiano?
--- Não sou Baiano.
--- Todos que chegam lá do Nordeste aqui, é chamado aqui de Baiano.
--- Tô chegando, não sei para onde ir?
--- Tem coragem de trabalhar no pesado?
--- Muito.
--- Então vamos, que vou arranjar um trampo para você.
--- O que é isso?
--- Serviço, trabalho, ralação, tudo tem um nome só.
--- Por quê está fazendo isso por mim?
--- Eu trabalho numa firma de construção civil, e ando a procura de gente que tenha coragem de trabalhar no pesado. Fico sempre nessa praça onde descarregam os Nordestinos. Com você já é o quarto que levo hoje para trabalhar.
O negrão levou Damião para a construção de um prédio que estavam fazendo ali próximo, onde tinha alojamentos. A comida é por conta do trabalhador, todos cozinhavam juntos na mesma panela, numa trempe com pedaços de paus.
Damião logo se acostumou com o trabalho e com vida da cidade grande, já fazia meses que estava ralando na construção do prédio, fazia de tudo, carregava tijolos, virava traços, carregava latas de massa, era pau para toda obra.
Amélia fazia suas arrumações para o casamento, dia e noite pensando no dia que Damião voltasse para casar com ela, não via a hora disso acontecer.
Todos os meses Damião pedia a um amigo que sabia ler e escrever para fazer carta para Amélia, só que nas cartas que os amigos faziam para ele, não podia externar os sentimentos que sentia pela amada. Precisava aprender a ler e escrever, só assim podia dizer tudo que o seu coração pedia.
Fazia três anos que Damião estava em São Paulo, tinha aprendido a ler e escrever com um professor pago pela construtora, isso tudo pelo método do Mestre Paulo Freire. Tinha aprendido o ofício de pedreiro, ganhava melhor, já saía com os amigos para os forrobodós que a cidade oferecia nas suas periferias.
As suas cartas para Amélia foram rareando, até parar de vez de escrever. Damião esqueceu Amélia, acostumou na cidade grande, não lembrava mais de sua terra, dos amigos e tão pouco de Amélia. Arranjou uma namorada do Ceará e a embuchou, logo casou, comprou casa, constituiu uma boa família, tinha filhos e continuava a trabalhar na construção civil, na mesma construtora que iniciou quando chegou a São Paulo. Era mestre de obras, tinha cinco filhos. Seus filhos foram crescendo e Damião com todo cuidado com a educação de sua prole. Sua a luta era grande para formá-los, era uma família feliz, já tinha netos e netas, vivia aposentado dentro de casa sem fazer nada, lembrava de sua terra Pau Darco, pensava como estariam todos, será que Amélia ainda é viva, e os pais dela estarão vivos também? Impossível, eram velhos demais quando saiu de lá. Amélia deve ter se casado, deve ter muitos filhos sofrendo naquele fim de mundo. Não estava arrependido da mulher que escolheu para ser a mãe dos seus filhos, mas devia uma satisfação para Amélia e uma visita a sua terra, mesmo que fosse a última coisa para fazer na sua vida, tinha certeza que não voltaria mais lá.
Fez uma reunião com os filhos a mulher e os netos para comunicar que viajaria para o Nordeste, queria rever os amigos de infância, visitar o seu torrão Natal, fazia 40 anos que estava em São Paulo e nunca mais tinha voltado.
Tudo acertado com a família, Damião viajou de volta as suas origens para visitar os seus conterrâneos e sua terra.
Chegando no distrito de Pau Darco, onde foi criado, Damião procurava pelos amigos de infância, uns tinha morrido, outros vivos, vivendo de uma aposentadoria dada pelo Governo, todos mais pobres do que quando ele tinha saído á 40 anos atrás. Damião lamentava a vida dos seus conterrâneos e perguntou a um deles:
--- E Amélia, casou?
--- Não, ela ainda mora na mesma casa.
Damião saiu para fazer uma visita a Amélia, cujo os pais tinha morrido, ela vivia só. Damião pegou a vereda que dava para casa de Amélia, viu os lugares onde tanto andou, olhou para um pé de carauba, onde muitas vezes descansou na sua sombra, a casa onde viveu com os pais só tinha o terreno, e alguns paus de pé, aquela capoeira seca, lhe trazia varias recordações, o barreiro onde bichos bebiam água, estava seco com o leito todo rachado. Passava um filme na cabeça de Damião, uma angústia tomava conta do seu coração, lembrava do seu sofrimento na caatinga, das frentes de trabalho que enfrentou, as suas recordações eram as piores possíveis.
Chegou na casa de Amélia, a casa tinha mudado pouca coisa, os santos nas paredes eram os mesmos, amarrados com fitas vermelhas e azuis, só o chão que não era mais de barro batido, foi substituído por cimento, não era mais coberta de palhas, e sim de telhas. Entrou mais um pouco chegou na cozinha, o fogão a lenha estava no mesmo local, a parede preta da fumaça, copos de alumínio bem areados em cima de uma bandeja, coberta com um pano. Amélia estava escorada na porta da cozinha, velha e feia, cara enrugada, cara de sofredora, perguntou:
--- Está me conhecendo Amélia?
--- Claro, não é Damião meu noivo? Você já foi na igreja falar com padre para fazer o nosso casamento. Você custou demais, e eu contínuo aqui lhe esperando.
Damião olhou para Amélia e viu na sua mão direita, a aliança desgastada que tinha lhe dado quando firmou compromisso com ela e os pais dela, de que voltaria para casar. Damião sentiu uma pena profunda do que tinha feito com Amélia, e ao mesmo tempo um arrependimento do que tinha feito com aquela pobre mulher que tinha perdido a vida esperando por ele. Tentou-lhe explicar que era casado, e tinha filhos e netos e que não podia mais casar com ela.
Amélia com toda raiva e impo falou para Damião.
--- Pode parar por ai. Então você não é homem de palavra, devia ter me avisado para eu seguir minha vida, porque quem assume compromisso tem que cumprir, você nunca esqueça na sua vida, que compromisso é compromisso, agora pegue a merda de sua aliança e pode ir para casa do diabo. Puxe daqui, fora da minha casa cabra sem palavra.
Damião saiu apressado, enquanto a aliança tinia nas pedras onde Amélia jogou.




Manoel Julião Neto

O CASAMENTO DE VALDEMIR COM MAROCA

Valdemir moleque novo criado nas várzeas do rio Açu, taludo acostumado a comer peixe com batata doce na beira do rio, namorador por natureza, por onde passava deixava alguém chorando por ele. Um dia nas suas andanças bateu com os costados aqui em Pedro Avelino, vinha a procura de trabalho, não enjeitava trabalho pesado, o que aparecesse ele traçava, tinha disposição para qualquer serviço. Começou a trabalhar na olaria de Zé piaba, fazendo telhas e tijolos, e a mulher de Zé piaba era louceira fazia panelas, agridás e potes e quartinhas, todos da família sobreviviam do barro.
Valdemir era macho trabalhador da peste, ganhou logo a simpatia de Zé piaba. Moleque enfronhado conquistador e audacioso para cima de mulher, a mãe já tinha lhe dito, - um dia uma mulher lhe da água de priquito e ajeita sua vida.
Pegou logo um namoro com Maroca, filha de Zé piaba, era namorão arrochado danado, namoro pra casar mesmo. Mas dizia o moleque Valdemir: O que mais me deixou apaixonado foi o pé de rabo de Maroca, o rabo era grande e boleado, desses que quando ela andava balançava de um lado para outro, e a dona do rabo não deixava ele passar nem a mão, dizia: que era moça direita, que quem quisesse passar a mão na bunda dela tinha que casar. O conquistador não resistiu os ancantos da namorada. No sábado foi á feira comprou as alianças, pagaria em três prestações de partes iguais.
Pediu a Zé piaba a mão de Maroca em casamento, Zé piaba concedeu imediatamente, também ficou muito satisfeito, pois Valdemir era um rapaz bom e sem vícios, só bebia uma cachacinha de vez em quanto, fazia de todo gosto o casamento. E o moleque Valdemir ficou noivo, bem que a mãe dele disse: que um dia uma mulher pegaria ele pelo pé.
Maroca meteu o pau a se arrumar para casar, Já estava com o baú cheio de tudo, lençol de cama, toalhas de banho e de rosto e fronhas e outras coisas mais. A mãe de Maroca tinha encomendado o vestido do casamento a Bia, que era a costureira da região, e morava na propriedade São Pedro. Zé piaba capou um porco para engordar, a mulher separou três perus para serva, todos os dias a velha colocava 2 quilos de milho de molho, empurrava de goela abaixo dos perus para ficarem gordos, tudo isso para o casamento de Maroca.
Eram todos trabalhando com dedicação em prol do casamento da filha mais velha de Zé piaba. Maroca estava com a louça de barro toda pronta para sua casa. Valdemir tinha comprado toda mobília no meio da feira, uma cama patente, com colchão de capim, um camiseiro e uma mesa e quatro tamboretes, o armário da cozinha ia ser feito de caixão de sabão patativa. Aquele seria o maior casamento da fazenda alagamar, tudo pronto, tudo nos conforme, Zé piaba e Valdemir vieram até a paróquia de Pedro Avelino, falar com o vigário da freguesia, Padre Antas para realização do casamento. Padre Antas era temperamental, quando pegava marcação com uma pessoa ia longe, e quando estava de lua, não tinha quem agüentasse seu gênio.
O Padre começou logo empombando, dizendo que Valdemir tinha sido batizado em Açu, que tinha que requisitar o batistério dele para poder ser concretizado o casamento, e também tinha que correr os banhos, que o casamento só podia acontecer daquela data há trinta dias para frente. Valdemir comprometeu-se ir buscar o batistério em Açu, o padre não aceitou, disse:
--- O batistério tem que vir através da Igreja.
--- Eu sou de confiança, conheço o Padre Canindé de muitos anos, ele faz isso pra mim na hora que eu chegar lá.
--- Acontece que a igreja católica tem seus tramites legais, não é assim do jeito que o povo pensa.
Tudo acertado com a igreja, só faltava ajeitar no cartório, mas no cartório era moleza, só era falar com Xavier, ele fazia o casamento na hora, recebia o pagamento até em galinhas e ovos, saía bem baratinho. Zé piaba avisou a todos de casa que o casamento seria daqui a um mês.
O vestido de noiva de Maroca estava pronto, Valdemir tinha comprado a sua indumentária nas bancas da feira, inclusive a gravata preta que ia usar no dia, estava tudo na medida. Os sapatos quem ia trazer era sua mãe que morava no Açu. Só faltava chegar o dia do casamento, para ele sarrabuiar Maroca, isso não saía da sua cabeça, pensava na traseira de Maroca vinte e quatro horas por dia.
Finalmente chegou o dia do casamento, estavam todos ansiosos com a data. Caiu num sábado dia da feira de Pedro Avelino. Na sexta-feira mataram o porco capado, dois carneiros, os três perus e uma porrada de galinhas, o sanfoneiro também estava contratado.
No sábado logo cedo Zé piaba colocou os potes, as panelas e os agridares em cima da carroça, e quando chegasse na rua entregaria direto a Avelino Salvião, que era o vendedor de mangaio da região. Maroca subiu na carroça com seu vestido branco com faixa na cintura da mesma cor, grinalda e boquê na mão, depois subiu a mãe e depois Valdemir todo engravatado, todos no meio das louças de barro, e Zé piaba saiu puxando o burro da carroça de estrada fora, em procura da rua de Pedro Avelino. Deixaram em casa o homossexual chamado João Nôga tomando conta das panelas, o porco já fervia dentro do tacho de barro desde madrugadinha, tinha comida e bebida pra quem chegasse, toda região da fazenda Alagamar foram convidados. Chegando na feira Zé piaba entregou a louça a Avelino Salvião, e foram todos para Igreja. Maroca de braço com Waldemir, o povo nas calçadas olhando, o belo casal que se casaria naquela manhã na missa dos agricultores que era celebrada no sábado pela manhã.
Igreja cheia, o povo de Alagamar veio todos, e o padre celebrando a missa, Valdemir não estava agüentando os sapatos apertando seus dedos, não podia nem se escorar, estava nos bancos da frente, mesmo em frente ao altar. Terminada a missa, o padre ia saindo para a casa paroquial, Zé piaba indagou:
--- Padre e o casamento?
--- Que casamento?
--- O de Valdemir com Maroca, o senhor marcou pra hoje.
--- Só que o batistério dele ainda não chegou, só sábado que vem.
--- Mas isso não está direito, já matamos os bichos pra festa, passamos a noite quase todo pelando o porco, Maroca com a mãe despenando galinhas e perus, e os meus meninos matando os carneiros, não dormimos, e agora o senhor me diz que não vai ter casamento.
--- Isso mesmo, não vai ter casamento, só sábado.
Não houve casamento, voltaram pra casa, comeram o porco os perus, dançaram a noite toda, e Valdemir não matou o peba de Maroca, também não teve o direito de passar a mão na traseira dela.
Passaram a semana trabalhando no artifício do barro, queimaram dois fornos de tijolos, cada um quinze milheiros, e um forno de telhas, de três mil. Finalmente chegou o sábado, Maroca vestiu-se de noiva novamente, o vestido estava todo amarrotado, Valdemir colocou a gravata e o sapato apertado, e lá vieram todos de novo em cima da carroça, Zé piaba puxando o burro, não ia haver festa, a festa tinha sido sábado passado. Chegando na Igreja, assistiram a missa, e depois o padre disse:
--- Não vai haver casamento, o batistério ainda não chegou.
--- Mas seu Padre isso já está me deixando aborrecido, parece que o senhor está fazendo de propósito.
--- Casamento só quando chegar o batistério. Você quer mandar nas coisas da igreja Zé piaba?
--- Não senhor.
Voltaram novamente para casa, e de novo Valdemir não matou o peba de Maroca. No outro sábado a mesma sacanagem, o padre disse que não ia haver casamento, dizia e saía rindo, o padre estava fazendo isso só de sacanagem. E Zé piaba reclamava:
--- Uma coisa dessa não pode, três sábados que o padre adia esse casamento, só digo uma coisa a vocês, sábado vai ter casamento.
Zé piaba comprou um porco, mandou matar, matou as galinhas todas do terreiro, dois cabritos, e contratou o sanfoneiro.
No sábado Maroca vestiu o vestido todo amarelado da poeira da estrada, e Valdemir de gravata, vieram no meio da louça que a carroça trazia. Chegando na igreja a missa tinha começado, o padre estava levantando o cálice, quando Zé piaba entrou com seu pessoal, mas de quinze pessoas, disse:
--- Como é padre vai casar Maroca com Valdemir hoje?
--- Ainda não, o batistério ainda não chegou.
A igreja repleta de fies, todos ficaram olhando aquela interrupção da missa, quando Zé piaba abriu o bocão bem alto:
--- Pôs tá bem padre. Valdemir vem cá, o porco está fervendo dentro do tacho lá em casa, nós come, as galinhas também nós come, o sanfoneiro está pago, nós dança. Você pega Maroca e leva pra casa do alto, tá qui a chave, e estraçalhe a boceta de Maroca do jeito que você quiser, rasgue a boceta de Maroca em oitocentos mil pedaços, do jeito que você entender, que casamento na igreja hoje não vale merda nenhuma, e o bicho pior que existe é Padre vamos embora que eu já estou cheio da cara desse Padre.
--- O que é isso Zé piaba, assim mesmo sem o batistério de Valdemir, eu vou fazer o casamento. Á muito tempo que eu estava pensando nisso.
Valdemir e Maroca casaram, foram para a fazenda, o sanfoneiro tocou a noite toda, e finalmente Valdemir matou o peba de Maroca e teve direito de passar a mão na traseira dela.

Manoel Julião Neto

terça-feira, 4 de janeiro de 2011

PIRRITA VULGO LUIZ MENDES

Na década de 70, encalhou aqui na cidade de Pedro Avelino, um sujeito novo, magro que jogava muita bola, não era assim um Cristiano Ronaldo, mais dava para enganar. Logo se adaptou muito bem aos costumes da terra, esse sujeito tinha o nome de Luiz Mendes, não é aquele comentarista esportivo da Radio Globo, é pirrita. O sujeito abandonou sua terra natal lajes, para ficar por aqui. Esse cara sempre fez parte de algumas de minhas histórias.

Pirrita nunca trabalhou, vivia vagando pelo centro da cidade tomando aguardente. Às vezes as autoridades da terra tinham compaixão dele e o inscrevia nas emergências que aparecia, só para ganhar o dinheiro, trabalhar que era bom nada.

Começou um namoro com ovelha filha de cipó preto, teve vários filhos, já tinha netos. Nunca possuiu uma casa para morar, sempre dormia na rua, principalmente na lavanderia que fica no conjunto da COHAB.

E pirrita foi levando a vida na farra e na cachaça, pedia um trocado um pedia um trocado a outro, era assim sua vida. Foi internado varias vezes no hospital para tratamento, mais sempre dizia que adorava cachaça, e que iria morrer bebendo, e foi isso que aconteceu.

No dia 02.12.2010, pirrita faleceu, e seu último pedido foi ser sepultado na sua terra, a cidade de Lajes. No velório compareceram os amigos de cachaça e de esbórnia. Quando a notícia do falecimento de pirrita chegou no centro da cidade, o alvoroço dos pinguços foi grande, uns contavam suas bondades e outros as suas ruindades. Os pinguços seus intrigados vibraram, e outros ficaram compadecidos.

Ás sete horas da noite juntou-se os pinguços e foram fazer o velório do amigo, munidos de aguardente e tira gosto de bolacha seca, iriam passar a noite velando à despedida do amigo, até os inimigos foram. No meio deles estava um locutor de eventos e pinguço chamado José Dutra da Costa. Chegando na casa de cipó preto onde o corpo estava sendo velado, a sala estava repletos de parentes e vizinhos, quando chegou á turma do álcool para fazer sua despedida.

--- Zé Dutra tu que és mais letrado, diz alguma coisa. – pediu lagatão

--- Porra lagatão, já estou melado o que danado eu vou dizer?

--- Qualquer merda que tu disser aí está valendo.

--- Bota uma pra mim que eu vou fazer uma despedida.

Colocaram três dedos de cachaça para Zé Dutra, tomou, colocou uma bolacha na boca, temperou a garganta, com todos os amigos do defunto presente, com a voz imitando o seu primo o ex-deputado José Adécio, começou a despedida verbal:

---Amigo pirrita, com a voz embargada, que em meu nome e em nome dos pinguços da cidade Pedro Avelino, que estou lhe fazendo essa homenagem. Eu que também sou pinguço, e que já estou com a cara deformada, os pés inchados e com fígado baleado, me sinto na obrigação te dizer.

Deu uma pausa, e disse:

--- Bota mais uma pra mim que estou neuvoso.

--- Porra Zé Dutra, começa logo a porra dessa despedida precisa de tanta frescura.

--- Calma chambão, também não é assim, tudo tem que ter um preparo.

Zé Dutra engoliu a cachaça e disse:

--- Continuando. Vai pirrita, vai, vai para o céu, tu que só fez merda na sua vida, hoje estás partindo para o lado de lá. Mais chegando lá, não estarás só, Pedrinho de Chico Câmara, João de Chico Câmara, Canindé de Chico Câmara, Paulo de Chico Câmara, Chapéu atolado, totonho, João Cururu e outros mais estarão a tua espera. Não esqueça que aqui ainda ficaram muitos pinguços que em breve estarão lhe fazendo companhia. Xola quase que vai, mais foi alarme falso a morte dele, que anda pelas ruas de PA, com o bucho inchado e todo pelado.

Pirrita quando lhe davam conselhos para você parar de beber, você dizia, eu gosto de cachaça, e está aí o seu fim, dentro de um caixão estirado com a cara toda deformada, deixou sua querida esposa ovelha com vários filhos para criar, e seus netos choram sua morte. Mais não tem nada não a vida é assim mesmo, nós todos vamos continuar bebendo e lembrando das cadeias que você levou quando fazia suas besteiras. Pirrita você chateou muita gente, dentro do mercado pedindo dinheiro para comprar meiota de cachaça, até Chico bola que é o bêbado mais chato de Pedro Avelino não lhe agüentava, mas depois da morte se perdoa tudo.

Vai pirrita, para o além e nunca se esqueça que um dia todos nós estaremos juntos para bebermos todas lá em cima. Tenho dito.

A família de pirrita estava toda chorando com a bela despedida que Zé Dutra, fez para amigo de cachaça.

Pela manhã o carro da funerária seguiu para a cidade de Lajes para sepultarem o biriteiro pirrita, e os seus amigos ficaram dando o último adeus.

Em tempo: Zé Dutra no outro dia foi para o hospital tomar soro, está com um dos rins paralisado, se recupera em casa, e diz que nunca mais vai beber. Não acredito.

Manoel Julião Neto

O SELEIRO HONORATO

A tenda de selaria de seu Honorato fica por trás de sua casa. É um pequeno cômodo de taipa coberto de telhas antigas e pretas da ação da natureza. A frente tem um pequeno alpendre, o chão é de barro batido, tem um banco grande enteriço e largo, cabe folgadamente cinco pessoas sentadas. Dentro da selaria uma mesa baixa onde o seleiro trabalha, uma máquina de costura SINGER de costurar couro. Toda ferramenta de trabalho está em cima da mesa grande e larga, facas afiadas de ponta fina, cutelos, formã, agulhas, esquadros, réguas e lápis de riscar moldes de material de selaria, formas de madeira de fazer sapato de campo, um armário cheio de moldes de vestas de couro, pé de ferro, martelo de sapateiro, pregos, brochas e taxas espalhadas nas divisões da mesa. O velho não trabalha só no feitio de selas ou concertos, qualquer material de couro ele faz com esmero e dedicação. Sua rede está sempre armada no centro de sua oficina. De vez em quando aparece alguém para fazer alguns remendos em selas, mas são poucos os serviços que aparece. Meia sola em sapatos ninguém faz mais, todos agora usam tênis, sapatos de campo, ninguém usa mais todos estão com botas de couro fino. Mas o velho Honorato é radical, não fechou sua oficina. Diz ele que todos agora só usam selas confeccionadas em São Paulo, não existe mais vaqueiros, agora os vaqueiros rebanha o gado e as miunças de moto, arreios são comprados nas capitais, são arreios finos de couro de primeira qualidade, as selas de hoje são todas enfeitadas, que parece roupa de baianas. As vaquejadas hoje é esporte de ricos, inventaram até uma faixa para o boi cair dentro e marcar pontos, já viu muita gente ficar falido com vaquejada. Gosta muito de ler, tem jornais e revistas antigas, guardadas num quarto dos fundos da casa. Sempre quem aparece e lhe traz jornais e revistas velhas, é o amigo Aurino que todos os meses, chega para fazer o pagamento do pessoal de sua propriedade, e sempre o visita. E naquele domingo Aurino apareceu trazendo muitos jornais e revista para o velho Honorato ler, e passar o seu tempo que está muito ocioso.

--- Bom dia seu Honorato, como está passando com esse tempo?

--- Bem do meu jeito, não tenho nada a reclamar, estou no meu capital.

Aurino entregou as revistas e os jornais velhos para o amigo, que o agradeceu muito, teria o que o ler o mês inteiro, até ele trazer mais revista e jornais para ele passar o tempo no próximo mês.

--- Seu Honorato eu queria lhe fazer um convite, mas o senhor é arredio demais, fica sempre trancado na sua, não quer sair dessa oficina por nada desse mundo.

--- Você é muito bom em dizer que eu sou arredio, eu sou mesmo e carrasco, exagerado, recalcado, exigente e ignorante.

--- É isso mesmo seu Honorato, vamos passar uns dias na praia comigo.

--- Não, daqui de dentro desse buraco só saio para outro buraco, ou então podem me jogar no tabuleiro para os urubus me comerem. Eu não gosto mesmo da vida, morrer e viver para mim não faz diferença. E outra coisa, todo matuto quer conhecer o mar, eu não tenho um pingo de vontade de conhecer essa besteira que é o mar.

--- Mas seu Honorato, a vida não é desse jeito, vamos mudar um pouco, saía dessa sua rotina, vamos comigo passar um dia diferente. Eu sei que sua vida é muito difícil, vamos sair um pouco dessa rotina.

--- Minha vida não é difícil, eu acho muito boa, eu não quero nada dessa vida. Para mim está tudo muito bom, eu queria mesmo era não ter nascido, eu fui gerado erradamente, eu devia ter saído numa punheta do meu pai, não merecia ter nascido, não gosto desse mundo, sou revoltado com o mundo. Esse mundo não está prestando para nada.

--- Seu Honorato nossa amizade é de longo tempo, eu nunca lhe perguntei porque o senhor ficou tão arredio desse jeito, o que aconteceu para o senhor ficar tão azedo assim?

--- Aurino o único amigo que tenho é você, amigo mesmo, hoje em dia ninguém tem amizade por ninguém, e se tem é por algum interesse, nós somos amigos porque eu não preciso de você e você não precisa de mim. Você vai ser a única pessoa que contarei a minha vida, e porque sou desse jeito. Nem a minha mulher eu dou o cabimento de falar do meu passado com ela.

Eu nasci no pé da Serra aguda, meu pai nunca me colocou na escola, se hoje eu sei ler e escrever, foi ele que me ensinou, ele era muito fechado, cabeça dura, já previa o que ia acontecer nesse mundo grande que Deus fez a besteira de fazer. Ensinou-me a profissão de selaria, e sempre tomando cuidado em mim, dizia: Daqui pra frente você vai se virar só, se quiser ganhar o mundo pode ir embora, senão vamos ficar por aqui mesmo. E falava abertamente do governo dizia que nenhum prestava, nunca queira nada que o Governo lhe oferecia, pois todos eles querem tirar o couro dos pobres. Esta e a realidade do que ele dizia. Falava que o governo deu uma aposentadoria aos agricultores sem eles terem contribuído com um tostão furado a previdência, mais toma todinho nos impostos e nos empréstimos consignados, tem velhos aí que estão atolados nos bancos, não pede esmola porque não tem uma cuia, e eu vivo tranqüilo não quero aposentadoria do governo. Nunca me registrei, nunca votei, não tenho identidade, eu sou uma pessoa que não existe para o país e é assim que eu quero viver. Minha mulher mora naquela casa dada pelo governo, mais eu não vou nem lá, nunca entrei para ver como é que é, tem televisão, que os filhos compraram para ela, tem geladeira, tem tudo. Quando ela apronta o almoço vem deixar aqui onde estou. Ela mesmo quem registrou os meninos por conta dela, por mim não registrava nenhum, energia eu não quero aqui na minha oficina, nem água encanada, eu não quero nada de beneficio do governo, eu quero viver minha vida contra o governo, qualquer um, nunca votei, não dou o cabimento de votar nessas ratazanas da política.

--- Mas seu Honorato não seja desse jeito, o senhor é a única pessoa no mundo que pensa dessa maneira.

--- Eu sei Aurino. Já lhe disse uma vez, que vim ao mundo mais não gostei dele, eu ainda não me suicidei, porque eu acho uma covardia quem tira sua própria vida, mas eu não gosto de viver. Eu acho tudo errado isso é carrancismo de mim mesmo, e não abro dos meus pensamentos de jeito maneira.

--- Mais tudo isso vai levar o senhor a quê?

--- A nada, eu sei que o povo está todos numa correria danada para ficar rico, eu não tenho essa ganância comigo, eu não tenho inveja de ninguém, vou ficar aqui na minha rede esperando a hora de morrer e pronto. A minha maior revolta é ter que chegar na feira e não mais encontrar material de selaria para vender, onde estão os cabrestos, onde está a selas de antigamente, onde estão os chapéus de couro. Hoje todos estão montados numa moto, em tempo de matar agente atropelado. Você não vê no meio da feira panelas de barro para vender, não vê rolo de fumo para vender, o que você ver muito é filme de putaria e mulher com o rabo de fora, isso é uma safadeza, é vida de vagabundos. Não me acostumo com esse mundo de vadiagem. Não se escuta mais uma música que preste, essas músicas da Bahia, e essas bandas das bandas do Ceará só cantam safadeza. O mundo virou um cabaré, tem putas para todo lado, as putas hoje são da sociedade. Mulher bota chifre nos maridos por brincadeira, isso é jeito de se viver, onde esse mundo vai parar, vão todos para o inferno. Principalmente esses homens que chamam de veados que se veste de mulher, isso num é uma porcaria. Você já viu que coisa errada, homem amigado com homem, mulher amigada com mulher, isso num é uma safadeza.

--- Mas seu Honorato o mundo mudou, os costumes hoje são diferentes.

--- Pôs eu nunca achei nada bonito nesse mundo, pra mim é tudo do mesmo jeito, tanto faz aqui como em qualquer outro lugar, eu só vejo gente besta, se emocionado com besteira. Gente emocionada porque foi ver a neve no Rio Grande do Sul, gente que vai para o exterior para se mostrar dizer que é viajado, menino querendo ir para a Disneylândia, tudo emocionado, vão ser besta na casa do diabo.

--- É como eu digo ao senhor, a tecnologia estar mudando o mundo, tudo está ficando mais perto, o povo estar ganhando melhor, quase todos tem instrução. Ávida é assim mesmo o senhor tem que se acostumar.

--- Mudou e mudou muito mais pra pior. É porque nem eu nem você daqui a duzentos anos não estaremos vivo, tivemos essa sorte, esse mundo não vai prestar pra nada, onde hoje onde eu moro, deve estar construído um prédio de uns vinte andares, não vai ter mais local para se plantar, nem para se criar, o mundo vai ter tanta gente que não vai ter lugar nem para se cagar. Os jornais dizem que vai faltar água no mundo, as águas são as mesmas, o que vai acontecer que vai ter gente demais para gastar água, então a água vai ser pouca. Você veja que á trinta anos atrás se pescava qualquer época do ano, peixe grande peixe pequeno, não tinha essa frescura de defeso, porque tem defeso? Porque tem gente demais para comer, e se não deixar o peixe desovar o peixe vai acabar. Quando eu era menino aqui na nossa região tinha todas as qualidades de animais, tatu bola, veado, gato do mato, canário da terra, rolinha caldo de feijão, gato maracajá, onça suçuarana, quer dizer, o povo comeu tudo hoje não se acha nem o rastro. E daqui a duzentos anos o que tem de bom nesse mundo? Nada, por isso que eu quero morrer primeiro, e tem mais quero me enterrar num buraco limpo, sem caixão e sem rede.

--- Certo Seu Honorato, o senhor tem os seus pontos de vista, com toda razão. Até o mês que entra.

--- Até Aurino.

Manoel Julião Neto

segunda-feira, 29 de novembro de 2010

O MENINO QUE O PAI QUERIA QUE FOSSE DOUTOR

Joaquim tinteiro vaqueiro velho das antigas, responsável e trabalhador. Foi muito por muito tempo vaqueiro da família Tassino aqui em Pedro Avelino, na fazenda Logradouro. Joaquim prestava muita atenção nos procedimentos dos filhos, e deles, notou que Francisco com disposição e inteligência fora do comum, ágil nas coisas, aprendia tudo com facilidade. Francisco tinha apenas 12 anos de idade, então Joaquim tinteiro achou que seu filho estava se perdendo dentro daquela fazenda, ele merecia coisa melhor, falou para D. Cruzinha sua esposa:

--- Vou levar Francisco para estudar na rua, esse menino está se perdendo aqui dentro desse mato, de vaqueiro só abasta eu, que não arranjei nada, nem um pedaço de terra para mim, e não vou estruir a inteligência do meu filho como os outros pais fazem, enterrando os filhos nas fazendas dos outros.

E no sábado dia da feira, arrumaram Chico, colocaram poucas roupas que tinha, numa bolsa de palha de carnaúba. Joaquim tinteiro colocou Chico na garupa da burra cardan, e tirou com Chico em procura das ruas de Pedro Avelino.

Chico era um menino taludo da cara larga cheia de sarda e vermelha, cabelos loiros desse duro, o famoso cabelo de espeta caju, o pau da venta vivia eternamente suado, andava com as calças sempre com uma perna arregaçada até o joelho e a outra perna até em baixo, vivia assobiando qualquer música entre os dentes, batendo com os dois dedos indicadores nos peitos para acompanhar o ritmo, esse era o perfil de Chico quando era menino.

Joaquim tinteiro chegou em frente da casa de D. Albertina, que era a madrinha de Chico. Tirou Chico de cima da burra por um braço, entraram de casa adentro, Chico todo desconfiado, pelos cantos das paredes, menino de dentro do mato tem vergonha de tudo, o pai disse:

--- Bom dia comadre Albertina!

--- Bom dia compadre Joaquim, o que o trás por aqui?

--- Vim trazer uns ovos que Cruzinha mandou para a senhora, e eu tenho um assunto para tratar com a senhora.

Joaquim mandou Chico tomar abença a madrinha, no que Chico fez prontamente. E Joaquim debulhou suas idéias para a comadre o que queria:

--- Comadre Albertina, o que eu quero dizer para a senhora que Francisco é um menino muito inteligente, como à senhora está vendo, desse tamanho, mas já amansa boi e burro brabo, sabe capar qualquer animal, cura bicheira de cabrito, faz uma cerca como ninguém. Comadre Francisco é um menino muito esperto, está se perdendo dentro daquele mato, eu quero botar ele para estudar. E quero que senhora faça de Francisco um Doutor para nos servir no futuro.

Tudo concretizado, tudo acertado, conselhos dados, e Chico ficou estudando na casa da madrinha. Só que Chico dizia baixinho:

--- Eu quero é ser vaqueiro, eu não quero ser doutor.

Na casa da madrinha Chico trabalhava pra se lascar. Botava água em dois burros do açude do governo, moia dois quilos de milho, pela manhã e dois pela tarde para fazer cuscuz, botava lenha nos burros, esse era o trabalho de Chico, e na parte da tarde ia para escola particular de Dona Munitinha.

Nessa época nossa turma que era mais velha do que Chico, e nós estávamos enveredando na vida pregressa da cachaça. E sempre que estamos bebendo escondido nos armazéns de Mulatinho que ficava em frente à casa de D. Albertina. Sempre que estávamos bebendo escondido, Chico chegava e ficava por ali rodeando, e Chico ficou sendo o nosso táxi oficial, só era dizer: Chico vá comprar uma garrafa de cachaça, Chico fazia carreira, comprava e voltava em cima do rastro, não tinha empalho com ele, e o pagamento, Chico tomava uma coisinha de cachaça na tampa da garrafa, não podia beber muito era muito pequeno. E Chico não largava os nossos cóis, para onde nós íamos, levava Chico a tiracolo. Só sei que Chico aprendeu a beber cachaça e a fumar. O dinheiro de Chico era pouco. Só recebia algum dinheiro quando seu pai vinha no dia de sábado, quando seu pai vinha para feira. E Chico viciou-se a fumar, comprava fumo e papel, para fumar a semana toda, quando o papel de enrolar cigarro de fumo acabava, Chico rasgava as paginas da bíblia da madrinha para enrolar cigarro. Essa travessura de Chico foi comunicada ao pai, que veio a rua e deu uma surra grande em Chico, e prometeu que se ele fizesse outra o levava para fazenda de volta, ele não ia seria mais Doutor.

Nossa turma foi a um aniversário, e levamos Chico, que meteu a cara na cachaça com vontade, embriagou-se, foi dormir, quando acordou foi aos gritos:

--- Me derem água, senão em morro de sede. Eu quero água, eu quero água!

Por causa desse alarme, colocaram-lhe o apelido de Chico d’água, mas o seu nome verdadeiro é: Francisco Brás Câmara, só que ninguém o conhece pelo seu nome verdadeiro, só Chico d’água.

D. Albertina comunicou a Joaquim Tinteiro o porre que Chico tinha tomado, que veio buscá-lo para casa, Chico não ia ser mais Doutor, agora ia ser vaqueiro, era o que ele queria.

E os tempos se passaram, fui embora para Natal, fui para a Marinha, passei mais de quinze anos sem vir a Pedro Avelino, quando em 1978 volto à terrinha. Quem encontro no meio da feira, Chico d’água, chapéu de couro atolado na cabeça, foi uma festa, Chico d’água já era vaqueiro o mesmo, já corria até em vaquejada. Partimos para dentro do mercado tomar cachaça com picado de porco. Recordamos muitas coisas, a conversa foi longa. Chico puxou do bolso o papel e fumo para fazer um cigarro, e eu me lembrei das páginas da bíblia de D. Albertina, e relembrei a Chico, rimos muito. Finalmente Chico d’água me convidou para o seu casamento dele com a minha amiga Gorete.

Fui ao casamento dos meus amigos, dançamos forró a noite toda, comemos buchada de bode com cachaça, foi uma maravilha de casamento. E Chico foi passar a lua de mel e trabalhar na fazenda Condado de Mulatinho.

Com os anos Chico depravou-se na cachaça e na irresponsabilidade, Gorete ficou grávida, era uma sexta-feira, e Gorete falou para Chico:

--- Chico vá correndo na rua trazer um carro para me levar para a maternidade.

Chico pegou o cavalo e tirou para a rua a procura de um transporte para levar Gorete para a maternidade. Quando chegou na rua encontrou uns amigos que iam para uma vaquejada em Pendências, chamaram Chico, e ele foi. Quando chegou em casa foi na segunda-feira na parte da tarde. Márcia já tinha nascido e Gorete já estava na beira do fogo fazendo comida para a menina. As histórias de Chico são hilárias.

Certa vez, Chico foi para feira, era sábado, Gorete ficou tomando conta das ovelhas e das vacas. Chegando na feira Chico fez logo as compras comprou o grosseiro e a mistura, a mistura foi dois quilos de carne de bode, um frango congelado. Colocou tudo dentro de um saco, e guardou na loja de Jairo, só sairia mais tarde para casa, estava muito cedo para chegar em casa, foi tomar umas lapadas de cachaça antes de partir com sua feira para fazenda o condado onde morava. Quando estava tomando uma meiota (ainda não existia latinha) quando chegou Odílio com os cavalos, o chamou num canto e fez uma proposta:

--- Chico vamos uma vaquejada em Santana dos Matos

--- E minha feira quem vai deixar em casa?

--- Manda nos carros da feira que passa por lá.

Chico nem se ligou de mandar a feira para casa, já estava chumbado de birita o que desse para ele estava tudo bem, tinha deixado um resto de feira em casa dava para Gorete passar o sábado. E Chico d’água se mandou para Santana na camioneta de Odílio, passou o pedaço do sábado, o domingo, só chegou na segunda feira à tarde. Ai foi que lembrou da feira, só que não lembrava onde tinha deixado, saiu procurando por bares, lojas e armazéns, só faltava Jairo abrir o comércio. De repente surge Jairo no beco da farmácia, Chico foi a seu encontro e perguntou:

--- Jairo eu deixei minha feira na loja?

--- Não sei só olhando, agora eu sei que na loja está uma catinga de podre danado, vou mandar Josildo da uma olhada, eu acho que é algum rato que morreu.

Quando Jairo abriu a loja, a catinga de podre subiu, Chico foi atrás de umas caixas onde se lembrou que tinha deixado a feira, não agüentou a catinga, a carne de bode e o frango congelado tinham ficado podre. E Chico d’água chegou em casa à tardinha, bêbado e sem a mistura.

Chico levava a vida num descompasso maior do mundo. Anos depois Chico saiu da fazenda de Mulatinho e foram morar em outra fazenda perto do distrito de Baixa do Meio. Gorete sua mulher era muito trabalhadora, e não dava muita atenção à vida que Chico levava.

Um dia o dono da fazenda fez um negócio com Gorete, todos os borregos enjeitados da fazenda que Gorete conseguisse escapar, dava a ela a metade, e Gorete topou a parada. Levava o dia correndo a procura de borregos com uma mamadeira na mão para alimentar os pequenos animais. No final do ano o dono rachou os borregos, Gorete teve direito a doze animais.

Por azar, dizia ela, ficou grávida novamente, estava tratando os seus bichos de ovelhas, com o maior cuidado do mundo, estava com os planos feitos, quando estivesse perto de ter o menino, iria comprar as coisas: banheira, fraldas, sabonete, mantas e outras coisas mais. Quando faltavam uns três meses para ter o menino, Gorete vendeu os animais ao marchante do distrito de Baixa do meio, caminho da cidade de Macau, ficou tudo acertado. Mas avisou ao marchante:

--- Vou pegar esse dinheiro domingo, quero fazer as compras na feira.

No domingo marcado Gorete não pode ir a Baixa do meio para receber o dinheiro, e mandou Chico d’água pegar o dinheiro, mas preveniu:

--- Não gaste o dinheiro viu Chico, é para eu fazer a arrumação do menino.

--- Deixe de besteira, eu estou acostumado a pegar em dinheiro.

Chico foi até o distrito de Baixa do meio e recebeu o dinheiro, e ficou na rodoviária, esperando um transporte para voltar para casa. Sentou-se um bom pedaço, e nada de aparecer um transporte, pediu uma cerveja para passar o tempo, ficou bebiricando devagar, não podia chegar em casa embriagado, Gorete daria braba com ele. Nesse instante parou um carro na rodoviária, desceu um papudinho com um violão na mão, o povo começou a cercar o individuo, Chico ficou admirado, quem era aquele cara que o povo caiu em cima, perguntou a uma rapariga velha que não parava de chorar, quem é esse:

--- É Bartô Galeno, que está aqui de passagem, ele vai fazer um show hoje em Macau.

Bartô Galeno meteu o pau a beber e a tocar violão, juntou muita gente, quase acaba a feira de Baixa do meio. Chico d’água também era fã de Bartô, desde o tempo da radio Brejui de Currais Novos. Chico entusiasmado pedia de duas cervejas de uma vez, já bebia no gargalo da garrafa. Ai Bartô cantou.

Amor você não sabe como eu estou sofrendo

Amor você não sabe como a solidão me apavora

Pois você é o grande amor da minha vida.

Chico d’água já terrivelmente bêbado gritou:

--- Bartô canta Malena.

Bartô Galeno cantou Malena e depois cantou no toca fita do meu carro. Despediu-se de todos e foi embora para a cidade de Macau. Chico d’água imediatamente pegou um ônibus da Empresa Cabral que ia para Macau, e foi assistir o show de Bartô Galeno. Chegando em Macau foi procurar Bartô Galeno no hotel, onde lhe informaram que o cantor tinha ido para a praia de Canapum. Chico d’água foi atrás.

Na praia Bartô estava rodeado de raparigas cantando e tocando violão, e Chico se meteu na farra, tomava cerveja e gritava bem alto:

--- Esse cara canta demais, ou bicho macho!

Terminou a farra e Bartô foi para o hotel, e Chico ficou vagando pelas ruas de Macau. A noite foi ao show de Bartô num clube local. Terminou o show e Chico d’água foi dormir na rodoviária. Amanheceu o dia, Chico acordou com o sol na cara, passou uma água no fucinho e ficou esperando a saída do ônibus que vinha para Pedro Avelino. Chegou a duas horas da tarde, enfiou a cara na cachaça de novo, só foi aparecer em casa na terça à tarde. Gorete perguntou:

--- Chico cadê o dinheiro dos bichos?

--- Gastei!

--- Como é que vou comprar as coisas do menino, banheira, roupas, fraldas, mamadeiras e outras coisas mais, me diga?

--- Pra quê banheira, filho de pobre toma banho em agrida e toma leite numa meia garrafa, e fraldas você faz de panos velhos. E não me aborreça não.

E o meu amigo Chico d’água continuou fazendo das suas, abandonou tudo pela cachaça. A uns quatros anos atrás, Chico começou a ver um trem dentro de casa, um negão querendo matá-lo. Chico estava doente, o levaram para Hospital João Machado. Quando Chico ficou bom, uma assistente social telefonou para Pedro Avelino perguntando se alguém conhecia Francisco Brás Câmara, ninguém conhecia. Ainda passou uns três dias internado até que descobrissem que Francisco Brás Câmara era Chico d’água.

Hoje Chico não bebe mais, é um homem de responsabilidade, gordo que só um porco.

Manoel Julião Neto